A (minha) meditação

 


Voei. Deslizei sobre o céu e vi o algodão das nuvens por baixo. Uma suave sensação nos pés, que subia lentamente pelo corpo acima. Vi do lado de fora, uma introspecção mas do lado do espectador. A nuvem continua subir, e como magia fosse, por onde percorria , tudo fica mole e derretido. É uma sensação ímpar, aquela nuvem a entrar e o corpo a derreter-se que nem manteiga .

Vi de fora o que não vejo de dentro. Vi tudo como um só, e tudo fragmentado. Não sentia os pés, nem as mãos, nem o corpo, a cabeça já estava longe, e a mente fugiu para uma nuvem só dela .

Voamos para baixo e para cima, ninguém ia aos comandos , apenas encostamos para trás e deixamos ir. Confiar na energia que nos guiava, que mostrava o dentro mas do lado de fora. A energia que brilhava pelo um umbigo, levava a mente para uma viagem de imagens e círculos, de anos vividos ou de séculos atrás. Movíamos sem sair do sitio, viajamos cá dentro mas muito para dentro, e muito lá para fora,  uma viagem funda e profunda. Já não se tem corpo, é uma espécie de manteiga derretida no chão, que já nem sei se é duro ou macio. Não o sinto. 

Voei, fui ás estrelas, e vi-me de lá de cima. Vi tudo e todos, num ângulo tão diferente do que normal, mas mais sábio, um círculo completo, tudo mais assertivo. Imagens como no cinema passam, e de tão desorganizadas como soltas, aparecerem, mas sei que tudo tem uma ordem, uma explicação, um propósito.

Voei, perdei a cabeça, a mente, já lá ia muito longe, o corpo em baixo, mas que não faz parte de mim. A cabeça quer expandir-se pelo universo, e puxa o que ainda resta consigo. Sentimos zero, sentimos a cabeça a fugir e a vir, a mente a crescer. 

A luz azul abraça o corpo e começamos a sentir um renascer. Os pés já não ficam naquele algodão suave , o chão já tem dureza, a mente, regressa, o corpo sente-se com a luz azul que percorre desde do umbigo, ao coração, até finalmente á cabeça. Somos um só, outra vez. 

Mas sem pesos, sem problemas, só soluções. 


(Foto Mykonos 2018)



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