Prever o imprevisível | O tentar explicar



Não sei como serei eu daqui a um ano, daqui a um dia nem sequer daqui a dez anos. O meu corpo faz reações estranhas a coisas normais, algo que dantes nunca acontecia. 

Ando há mais de um ano a tentar secar uma inflamação da atroscopia na atm esquerda. Mas a inflamação não é porque algo correu mal na cirurgia, é porque o meu corpo contra reagiu. No verão passado na Grécia, a minha cara ( e corpo) inchou de tal forma que nem conseguia sorrir direito. Sentia as bochechas a tocar nos olhos. 

Ando com feridas na boca, na parte dentro, derivada da tal inflamação que nunca cura. Há dias que não consigo pôr os pés no chão, há dias que desmarco tudo o que tenho que fazer e fico só a respirar, há dias que só sobrevivo, e no dia seguinte sou capaz de acordar como se nada fosse e estar tudo bem outra vez. Se escrever com caneta as articulações podem doer, ou não,  nunca sei. Tanto tenho formigueiros na perna, como depois no braço sinto a arder. Faço contraturas no corpo gigantes, que só com aplicação de botox clínico tenho qualidade de vida. Faço sempre? Não. Há semanas a fio que ando bem, depois há dias a fio que fico péssima. Porquê? É da doença, dizem-me. 

Enfim, há tanta coisa que me acontece sem razão aparente e desaparece da mesma maneira que apareceu. Faz parte da doença, todos me dizem. Faz parte da minha nova pessoa, desta minha nova identidade, também me dizem.

Tenho medo de marcar planos de férias, pois se por vezes ir a um simples jantar desisto na hora, ora porque  fiquei super cansada - sem fazer nada-, ora por outro motivo qualquer, então como posso comprometer-me com planos a longo prazo?

Aceito bem isto, nos dias bons, é claro. 

O problema é quando os outros não compreendem como eu não posso decidir hoje o que irei ter/fazer/precisar daqui a um, dois, dez ou vinte anos. Nem eu sei. Nem eu própria sei como amanhã vou acordar. É difícil lidar com isto sozinha, cá dentro, o eu antes e o eu agora. Torna-se mais frustrante ainda quando não me compreendem. 

Vendo bem, claro que não me compreendem, nem eu me compreendo. Aquela velha frase, de que “só sabe só porque quem já passou” é um bom resumo do que sinto. Não consigo controlar os meus “imprevistos”, consigo controlar a forma como os encaro (ás vezes), e já tenho a elasticidade suficiente para saber que o dia de amanhã pode ser todo ao contrário. 

Só não consigo fazer com que percebam isso.


(Mais outra foto, de um momento feliz, Positano’19)

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