Isto da escrita
Dizem que escrever faz bem à alma, e eu sinto falta da escrita.
Fiz do blog, um blog de comida e afins, mas a escrita faz- me bem. Há quase um ano que não vinha cá, mas escrevia textos na minha cabeça. Nunca foi parar ao “papel”, embora tenha comprado um caderno. Encostado ao livro, na minha mesinha de cabeceira, juntos, imóveis .
O Francisco está grande, vivaço, e esperto de mais para a idade. Já não é bebé. O tempo passou, fugiu entre os dias e as semanas , e ele cresceu. Agora adormece na minha cama, e partilhamos aquele momento , tal como se tivesse dois meses.
Não me lembro do primeiro mês do Francisco, e felizmente tirei fotografias. Olhando para trás, foi tão difícil o estar sozinha, deitada naquela cama, com duas fotografias, uma dos miúdos outra do bebé com minutos de vida. Eu, as fotografias e os sons de todas máquinas ligadas ao meu corpo, aos outros corpos, e a incerteza do que seria a minha vida, e o medo do que seria a vida deles sem mim.
Não me lembro do primeiro mês dele em casa, mas de uma maneira irónica e malvada, sou capaz de reviver cada minuto que lá passei, sei de cor o que me passou pela cabeça, do que ouvi, do que rezei. Mas não me lembro dele no primeiro mês.
A Kenya faz agora um ano foi atropelada, arranjei outra no dia seguinte, uma alma caridosa que sentiu um vazio na minha voz, deu-me a conhecer a Índia , e cá está, a minha sombra. Uma cadela feita à medida cá para casa, para nós e para mim.
Cada vez mais tenho a fibromialgia controlada, e depois do fiasco da artroscopia ao maxilar, em janeiro, as coisas estão mais ao menos, a compor-se.
Mas ainda tenho dores, aqui, acolá, e ali. Dizem-me estás tão bem, como pode doer com esse bom ar todo. Já não me queixo, aliás não posso estar sempre a dizer que dói isto ou dói aquilo. É uma dor solitária, sou eu que a vivo, não me queixo para não ser a chata, mas vivo-a sozinha. Não vale a pena partilhar, e passar os dois pelo mesmo. Já chega o que sinto, não quero arrastar mais ninguém. Basto eu.
Mas devagarinho tudo se vai alinhando, e compondo, e a vida acontece. E poder gozar os três, ver crescer, aproveitar o sol, ver o rebuliço da casa, escada acima escada abaixo, enche-me.
E assim, talvez comece a escrever mais por aqui.
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