Perder um bebé.
(um pedido especial, e com um grande beijinho de força. )
Parece pouco comum mas não é. Apesar de uns falarem sobre o assunto com ligeireza e dando-lhe pouca importância, o que é certo é que só quem sabe o que realmente é, quem (infelizmente) passa por uma experiência assim.
A natureza traz destas partidas, tão rapidamente abençoa uma mulher ( e uma família), dá-lhe uma alegria inqualificável, como também num ápice lhe tira tudo abruptamente. É injusto, é certo. É violento, é duro demais. E todos sentem o abalo. Mãe e pai sofrem.
Sofrem de maneiras diferentes, mas sofrem. Sofrem pela perda que um sonho, pela desfeita de uma promessa, por um futuro roubado. Sofrem e fazem um luto, um luto verdadeiro e sentido.
Para a mãe é avassalador e traz consigo um enorme (monstruoso) sentido de culpa. Porquê a mim? Porquê eu? O que fiz de errado? Terá sido por ter subido aquelas escadas? Terá sido quando fomos aquele festa? Terei comido bem suficiente? O que fiz eu? E porquê não consigo fazer o que as outras fazem?
E se dantes o mundo era um local alegre, agora é cinzento e até parece irónico. O numero de bebés parece que triplica, o numero de grávidas que lhe rodeia, duplica, quadruplica, multiplica-se por 1000. Todas engravidam menos a mãe. Todas andam para a frente com a sua vida, menos a mãe. Engravidam, nascem, vivem, respiram, menos a mãe. A sua vida estagnou, e a dor não desaparece. Como se anda para a frente?O sofrimento é grande e não diminui com o tempo. Apesar de todos dizerem que é preciso andar para a frente, olhar para o amanhã, viver o presente e planear o futuro, o que é certo é que a esta mãe está de luto. E é um luto solitário, sofrido, e muito pouco compreendido.
O pai fez o seu luto, chorou, abraçou, sofreu, e chorou mais um pouco ainda, e ainda sofreu mais um pouco ainda. Mas já conseguiu seguir em frente, já encara os dias com a normalidade de sempre, o trabalho, a rotina, fala ao telefone com os amigos, combina programas e até se ri. A mãe fica incrédula com esta capacidade, e ao mesmo tempo aumenta a distância entre os dois. Este afastamento deixa-a ainda mais sozinha, mais abandonada, e com maior sentido de culpa. O que é eu fiz de errado?
Vive e revive todos os momentos, de todos os dias, analisou ao pormenor tudo o que fez e passou a pente fino todos os seus movimentos. Vive e revive todos os passos, e todos os minutos com o médico, ouve e repte várias vezes na sua cabeça as palavras " não há batimentos cardíacos".
Lembra-se que ainda pediu para procurar melhor, pois podia ser um erro da posição. e afinal de contas isto não lhe poderia estar a acontecer. Não a si. Era só algo que acontecia ás outras, não a si. Lembra-se remotamente de ter ouvido novamente as mesmas palavras a confirmar, e de ter assistido a tudo como quem assiste a uma novela. Lembra-se que não era ela, não podia ser. Repete e rebobina todos os minutos em slow motion, todos os diálogos, todas as caras. Lembra-se da cara do pai quando teve que lhe dizer, e como esta se transformou. Lembra-sa da sua voz ter sumido entre as lágrimas e aquela dor no peito, aquele buraco. Nunca ninguém soube o quanto chorou. Nunca ninguém soube o quanto ainda chora.
Depois há ainda aquelas datas difíceis de superar. Aquelas datas que se forem faladas em alta voz soam a ridículas, mas que para aquela mãe eram os pilares de uma vida. A data de nascimento, a data da consulta, a passagem para o segundo trimestre, para o terceiro trimestre. E a data fatídica quando tudo começou a destruir-se.
As amigas e os familiares que sabem tentam abordar o tema, dizendo que talvez tenha sido melhor assim, ou que um dia em breve, virá outro. Mas a mãe não quer outro. Quer aquele. Só aquele.
Muito poucas mulheres falam francamente sobre o assunto, criando secretismo solitário. Talvez devido a terem medo, vergonha, pena, culpa, ou dor, fecham-se em copas e aparentam uma existência feliz e normal.
Há uma dor única, uma dor que se instala quando se prepara um coração (e uma família) para a chegada de um bebé que nunca acaba por chegar.
Nao podia ficar indiferente a este post porque infelizmente sei do que escreve!!!É um vazio absoluto!
ResponderEliminarMas como tudo na vida o tempo ajuda
um bj especial a quem está a passar por um momento tao triste e injusto
Olá Beta. Lamento mesmo muito. Um beijinho grande com muita força .
EliminarMuito bem escrito este texto, passei por uma perda às 35 semanas, e revi-me em tudo o que escreveu.
ResponderEliminarÉ uma dor que ninguém percebe e que fica cá dentro sempre e nunca se esquece.
Já tenho um menino com 2 anos e uma filha que é o nosso anjinho.
Beijinho
Um beijinho grande!!
EliminarNinguém está preparado para tal sofrimento. Achamos sempre que só acontece aos outros! Até ao dia em que somos postos à prova e em que o nosso mundo desaba... Não há explicação para tamanha dor. Para nos juntarem no mesmo local onde outras mulheres estão a ter os seus bebés. Onde ouvimos os gritos de dor de outras mulheres, e logo de seguida o choro daqueles seres maravilhosos! E nós ali... à espera para nos tirarem o nosso bem mais precioso de dentro de nós, mas com a consciência de que não o vamos ouvir chorar... Amamos tanto alguém que nunca nasceu... É uma dor sem descrição!
ResponderEliminarUm abraço forte a quem passa por este sofrimento! <3
Felizmente a vida deu-me, passados poucos meses, a oportunidade de seguir em frente e ter o maior amor do Mundo nos meus braços, mas há dores que nunca se esquecem!!!
Beijinhos muitoooo grandes! <3
Um beijinho grande Andreia!
EliminarNão podia dizer melhor. É uma ferida para toda a vida. Quiçá um dia, uma cicatriz. Vai doer sempre...ser mãe de um anjo.
ResponderEliminarJá passaram dois anos e a ferida não cura...
ResponderEliminarSoube a partir da sexta semana de gestação que tinha uma gravidez de risco, ainda aguentei mais 3 semanas, mas perdi-o. E ainda hoje penso nele, choro por ele e sonho com ele. Tenho saudades dos beijos que não dei nem recebi, do colo que não pude dar, dos abraços que não partilhei, do riso, da cara, da voz... Tenho saudades de tudo o que não pude viver com este meu filho! Tenho saudades de um filho que só vi uma única vez, numa ecografia feita quando pressenti que o ia perder!
Só me resta a dor da saudade!
TM